Quem são os heróis:
Aldred
Castell Maedoc III
Aldred é um
jovem humano de 16 anos que acabou de conhecer Lander, o elfo, e um grupo de
aventureiros excêntricos. Ele deseja se enturmar o quanto antes e iniciar o
caminho para seu sonho de ser um dos maiores heróis de Arton.
Rendell Postle
Rendell chegou
a Valkaria com o orc Luke e encontrou o restante de seu grupo. Souberam da
proposta de Lander, o elfo, que buscava aventureiros para uma missão ainda não
revelada. Admirador da rica cultura élfica, ele deseja descobrir o teor da
missão e julgar se valerá a pena.
Lander
O elfo está
cansado de cidades humanas. Quer iniciar sua vingança pessoal contra a Aliança
Negra e para isso, começará desmantelando um bando de goblinóides. Para isso,
ele terá que se unir a aventureiros e não
pretende ser muito criterioso, pois não está pensando em criar vínculos
afetivos.
Luke
Luke deseja
comida e lutar. Rendell quer ensiná-lo a ler e escrever, o deixando meio
entediado. Ele agradece aos deuses por encontrar o orelhudo para enfim matar
pessoas sem ser caçado por isso.
Sir
Allan Howard
O cavaleiro
demonstrou interesse em “la plata” e,
juntamente com Parak, pensa em pilhar os monstros goblinóides e conseguir fama
de herói salvador do povo.
Parak
Esse goblin é
bastante típico, não tem senso de irmandade entre os seus, e por isso quer o
mesmo que seu amigo cavaleiro. Antes seus “irmãos” mortos por valentes heróis
do que ele mesmo.
A história até aqui:
Lander foi a
Valkaria reunir um grupo de aventureiros para uma missão específica não
revelada com detalhes. Apenas o mote principal é um dos mais tradicionais no
meio dos aventureiros: matar goblinóides. Todavia, Parak e Luke, membros do que
se poderia considerar goblinóide, não parecem possuir problemas com isso.
Aldred
conseguiu ser aceito no grupo novo, enquanto Rendell e sir Allan, apesar de parecidos em suas imponências, possuem
objetivos bastante distintos.
Episódio 02- Morte
aos Goblinóides
O suor escorria
abundante debaixo do elmo de Rendell, o paladino de Tanna-Toh. Ele observava
seus companheiros, todos cansados e alguns feridos. Retirando o elmo, ele pôde
ver com mais clareza os corpos dos goblins espalhados pela grama. O bosque e a
aldeia ali próximos estavam salvos. A bandeira rudimentar com o macabro símbolo
do sol em eclipse de Ragnar, o deus goblinóide da morte, estava quebrada ao
meio, pisoteada no centro daquele embate.
- Goblins
fraquinhos. – Comentou Luke, enquanto guardava seu machado enorme com sangue
gotejando da lâmina.
- Eu não
achei. – Parak ajudava sir Allan a
retirar o escudo de metal preso ao braço e a afrouxar fivelas de sua armadura
escamada. Estava de mau humor por ter cortado o braço quando um “irmão” o
cortou com uma machadinha.
- De qualquer
forma, os aldeões sofrem de pobreza extrema. E este é um inimigo que não
podemos matar. Nem vale a pena pedir recompensa. – O cavaleiro da luz jazia
sentado sobre um pedregulho com as pernas abertas, sendo rodeado pelo colega
goblin. Tratou de esvaziar um cantil e jogar o restante no rosto.
O sol estava a
pino, reinante solitário no céu daquele verão. Aldred pensava que havia lutado
bem. Fora seu primeiro combate de verdade e ele conseguiu derrotar o maior
número de inimigos com seus socos certeiros e chutes poderosos. Nem mesmo Luke
podia equipará-lo. A verdade era que o orc não estava interessado em lutar
contra oponentes tão fracos e de gosto ruim. Ele estava mais interessado nas
vacas dos fazendeiros próximos da aldeia.
Lander
caminhava com leveza típica de sua raça, sem marcar o solo com seus passos.
Olhava os corpos com sobrancelhas franzidas e de vez em quando testava a
direção do vento.
- Está vendo
se existem mais goblins pela região? Acredito que eles tenham um covil aqui
próximo. Fomos agraciados pela sorte de encontrar estes goblins em direção da
aldeia. Mas duvido que tenham partido com força total. Eram muitos, mas
careciam de um líder. Este deve estar aguardando longe.
Rendell só
teve certeza de que Lander o ouvira porque era um elfo e estava muito próximo
quando começou a conjecturar. Mas não tinha certeza se ele prestara atenção.
- Encontrei. –
Com um sorriso de canto de boca, Lander pegou um amuleto perto de um dos
goblins partidos ao meio, causados pelo cruel corte vertical do machado de
Luke. – Venham.
- Estimado
elfo, acredito que esse seja o momento em que nos explica seus planos. – Sir Allan estava de pé com peito
estufado, capa esvoaçante. Ele não usava elmo, pois gostava que vissem seu belo
rosto de cavaleiro galante.
- Não
entenderam ainda? É muito simples. Goblinóides. Monstros. Sei onde tem mais.
Vamos matá-los.
Aldred não
entendia muito bem o propósito. Sabia que alguns goblins espalhados pelos ermos
eram selvagens e atacavam aldeias indefesas. Mas geralmente esta ameaça era
combatida por milicianos ou mesmo pelos Patrulheiros da Deusa, uma organização
militar itinerante. Dentro do território de Deheon não havia nada que escapasse
de seus olhos vigilantes.
- Não que eu
ligue para furar os crânios de meus irmãos goblins, mas realmente, Lander,
ficar lutando o dia inteiro pode ser perigoso. Precisamos de estratégia para
ver se os outros goblinóides são muitos, se tem um esconderijo osso duro de
invadir. – Parak rapidamente colocou as mãos na boca, recordando-se da
proibição de Lander.
- Vocês querem
historinha? Vou lhes dar uma. Era uma vez um bando de goblinóides que invadiram
uma cidade humana ao sul. Khalifor não suportou muito quando as máquinas de
guerra surgiram do chão. Algumas pessoas fugiram, a maioria morreu ou virou
escrava. Um elfo conseguiu fugir com alguns plebeus, comerciantes e outros
fracos demais para lutar. Então, um bando de goblinóides nos perseguiu e nos
encontrou na quinta noite de fuga. Somente eu sobrevivi. Apesar disso, levei
uns dois goblins para o encontro com seu deus. E encontrei em seus corpos este
amuleto. E estes bichos aqui também o possuíam. Portanto...
- ... são o
mesmo grupo. – Completou Luke com um rosnado. – O que estamos esperando?
- Pergunte a
seus colegas. – Cutucou Lander.
Rendell pegou
o amuleto e lançou um olhar longo, olhando cada detalhe. Era um objeto do
tamanho de um punho fechado, feito de ferro e possuía gravuras, inscrições.
Houve uma expectativa no ar.
- Não faço
ideia do que signifique. – Foram as palavras do paladino. Parak mostrou a
língua. Sir Allan soltou um leve
sorriso. – Sugiro voltarmos a Valkaria, afinal, são apenas algumas horas de
caminhada. Estou certo de que a Biblioteca das Duas Deusas terá a resposta para
este mistério.
- Não há
mistério algum. Se não formos agora seguir esta trilha deixada pelos goblins,
quem sabe quando poderemos encontrar o restante? – Lander deu passos largos e
pesados em direção a Rendell. Eles miraram olhares e se mediram. Aldred sentiu o
clima pesado e não conseguiu furtar-se de intervir.
- Gente,
podemos nos dividir. Somos seis. Três retornam a Valkaria, três seguem a
trilha. Mas os que vão para a trilha não engajam em combate, apenas observa o
esconderijo do restante dos inimigos. Os outros três que vão para Valkaria tem
apenas dois dias para encontrar o significado dessas... desse... daquilo ali.
Dividir um
grupo não parecia ser uma boa ideia. Rendell balançou a cabeça, mas sir Allan aplaudiu.
- Boa ideia,
rapaz. Eu e Parak voltamos para Valkaria. Investigaremos na Biblioteca. Sei que
o nosso nobre paladino queria voltar e pesquisar ele mesmo, mas acredito que as
proteções da deusa do conhecimento podem ser mais úteis com Lander. Afinal,
vimos que o elfo carece de bom senso.
O ranger não
alterou sua expressão, parecia distante, olhando os arredores.
Rendell torceu
a boca balançando a cabeça, mas nada disse.
- Então é
isso? Vamos embora, cavaleiro. A gente marca o reencontro na aldeia, certo? Daqui
dois dias, ao sol a pino. Que Nimb role bons dados para vocês todos. – Parak
pegou sua mochila e ajeitou rapidamente. Com suas pernas tortas agitadas, já
caminhava de volta para a estrada principal. Sir Allan abraçou Rendell em um breve momento.
Assim, o grupo
se separava.
***
Era uma noite
cheia de nuvens e o cheiro da terra fez Lander encontrar entre a junção de
árvores um abrigo em que somente um elfo poderia enxergar. Sem alterar
praticamente em nada o lugar, apenas movendo algumas folhas e prendendo umas as
outras, os quatro poderiam passar a noite somente úmidos e não encharcados.
Ele ficou de
olhos bem abertos no começo, enquanto todos se ajeitavam sobre seus sacos de
dormir. Aldred era o único a não possuir nenhum equipamento, sequer uma
mochila, a não ser sua espada ainda não desembainhada.
Apesar do
olhar severo de Lander, Rendell ascendeu sua lamparina trazendo um pouco mais
que penumbra no esconderijo. Luke, ocupando metade do lugar estava sentado com
a cabeça enterrada nos ombros. Balbuciava resmungos.
- Não adianta
vir de bico. Lembre-se do que combinamos. Aprenderá a ler durante as noites de
viagem. Vamos, precisa aprender a escrever seu nome pelo menos. – Rendell abriu
um livro com capa de couro resistente e deu ao orc uma pena. Aldred ficou
curioso.
- Você preza
muito por ele, não é?
- Sim, eu
considero Luke um amigo. – Rendell mostrou um leve sorriso ao ver o orc
tentando ler em voz baixa, compenetrado no livro.
- Mas não vê
amizade em Allan Howard, não é mesmo? – A rispidez de Lander parecia um alerta
de inimigo próximo. Aldred ajeitou-se desconfortavelmente tentando não
encostar-se a Luke ou em Rendell.
Houve um
momento de silêncio, mas todos sabiam que um devoto de Tanna-Toh jamais poderia
deixar de responder uma pergunta direta.
- Não. E ele
sabe disso. Bem como Parak e Luke. Então, você o ouviu? – Rendell imaginou que
o elfo havia escutado as palavras de sir
Allan em seu ouvido, ditas ao se despedirem.
Lander não era
devoto da deusa do conhecimento, não precisa responder. Apesar disso, inclinou
a cabeça com um leve sorriso satisfeito.
- Cavaleiro da
luz mercenário e amigo de goblins. Como foi que o conheceu?
- Vou lhe
responder. Mas antes, deixo claro sua generalização inculta sobre os goblins.
Eles são uma raça com a mesquinharia em seu sangue? Decerto. Mas muitos
indivíduos se inclinam para o bem. De todas as raças. Obviamente, não é o caso
de Parak. Mas ele não possui a maldade em seu coração.
- Pare de
enrolar. Sir Allan Howard deve adorar
ter você como companheiro. Nenhum segredo para ele, todos para você.
Rendell
respirou fundo, pois detestava ser interrompido.
- Conheci sir Allan em um torneio no feudo de
Bedivere em Bielefeld, na divisa com Yuden, meu reino natal. Galante, o
cavaleiro despertou minha curiosidade ao contar a todos sua supremacia na justa
na forma de títulos apresentados em pergaminhos muito bem detalhados. Um jovem
cavaleiro não poderia ter tantos títulos. Ninguém questionou, pois ninguém
queria duvidar da honra da família Howard. Mas eu sou uma pessoa bastante
curiosa e não sou afetado por essas convenções mundanas. Portanto, analisei
tais pergaminhos. Para meu olhar minucioso, eram obviamente falsos.
Luke parou de mexer
no livro e passou a escutar a história. Lander estava próximo da saída do
esconderijo entre as folhas. Parecia distante, mas o paladino dessa vez sabia que
estava ouvindo.
- Confrontei
discretamente sir Allan. Expus meu
raciocínio e vi um jovem assustado, querendo provar ser alguém que ainda não
era. Ele tinha potencial, como pudemos ver hoje de manhã. Mas parecia sofrer
uma pressão por ser o melhor, para nascer sabendo. Assim, o convidei para
viajar comigo e montarmos uma associação. Ele ganharia experiência e fama se
viajasse comigo.
Lander voltou
a olhar Rendell com desdém.
- Humanos são
assim mesmo. Gananciosos, agitados e barulhentos. Não me admiro, pois suas
vidas curtas não lhes dão pouco tempo para refletir alguma coisa. Seu legado é
a guerra. A fome, morte, doença, destruição. – Lander cuspiu, ignorando o cenho
franzido de Aldred. O garoto só ouvia. Não se sentia capaz de dialogar com
pessoas tão experientes. Aprendia tudo que podia.
- Discordo
dessa visão pessimista sobre os humanos. Mas entendo como você chegou a ela,
Lander. Não vivi o que você viveu, mas a amargura em suas palavras reforçam o
caráter imparcial de suas análises. Os humanos, bem como todas as raças, têm o
bem e o mal em seus corações. Alguns pendem para um lado e outros para o outro.
Outros são confusos, precisam apenas de orientação. Veja o exemplo de Luke. Eu
visitei uma vila com sir Allan e
descobri que um orc a protegia. Tentei encontrar a criatura, já querendo saber
tudo sobre ela e não a encontrei. Quando voltamos à estrada, encontrei Luke
desmaiado de fome em uma região de pradaria, sem caça, sem nada. Quando o
alimentei, ele ficou grato e decidiu me seguir. Com a convivência pude notar em
seu intelecto simplório, a vontade de viver e sua curiosidade sobre comida. Ele
jamais havia experimentado nada parecido com o que as pessoas das cidades
comiam. Claro, você pode achar ingênuo ou estúpido, mas para ele é um objetivo
de vida.
Luke bocejou e
se recostou. Em segundos, sua respiração carregada podia ser ouvida em
quilômetros. Aldred viu em Rendell um verdadeiro líder. Um homem de bom
coração. Um paladino rosto ossudo, corpo bem magro, dentro de uma armadura de
metal. Para o jovem, Lander era o oposto. Alguém amargurado demais que
desmotivava. O elfo fechou os olhos da posição que estava e logo não se sabia
se estava dormindo ou meditando.
- E Parak? –
Aldred arriscou depois de um tempo. – Desculpa te perguntar, sei que não pode
não me responder.
- Tudo bem,
Aldred. Nada tenho a esconder, por favor. Quem me apresentou foi sir Allan, em Valkaria. Parak é um
mistério para mim. A princípio, um goblin de fora de Valkaria. Seu sotaque não
é deheoni típico, nem possui o sotaque dos goblins da favela.
- Acha que os
dois estão tramando algo... de ruim? – A falta de vocabulário fez Aldred o
desanimou de continuar conversando.
- Não sei. É
provável. Talvez não os encontremos mais. Talvez os encontremos na aldeia
depois de amanhã. O futuro a Thyatis pertence.
***
Aldred acordou
com um cutucão na costela. Lander estava com sua espada longa empapada de
sangue. Na outra mão, segurava a cabeça de Luke. Os olhos arregalados fizeram o
elfo mostrar todos os dentes no sorriso.
O susto fez
Rendell perguntar-lhe se estava tudo bem. E somente ao ver Luke afiando seu
machado enorme fez Aldred se acalmar. A cabeça na mão de Lander era de um orc
qualquer.
Eles avançaram
a passos vagarosos. Lander bem à frente. Aldred no meio com Luke próximo e
Rendell bem atrás, pois o metal escamado produzia um som indiscreto. O elfo
explicou que o orc morto era um batedor. Ou seja, não deviam estar longe do
esconderijo.
O dia estava
nublado e as árvores enormes com suas copas não ajudavam na iluminação. A chuva
prometida da noite anterior não veio, mas podia desabar a qualquer momento.
Lander queria apressar o passo para não perder os rastros de sua caça. Aldred
caminhava olhando sempre a frente, mas a repetição dos movimentos logo se
tornou monótona. E ele devaneou em recordações e pensamentos sobre seu futuro
como grande herói ao lado de Rendell. Então, perdeu Lander de vista. Olhou
rapidamente para Luke e percebeu sua desatenção, observando as copas das
árvores, preocupado com não se sabe o que. Aldred virou o rosto rapidamente
para trás e viu Rendell muito distante, quase não era possível divisar seu
rosto dentro do elmo.
Resmungando,
Aldred sussurrou pelo elfo. Depois sussurrou com a voz mais grossa. Uma fruta
seca caiu em sua cabeça. Era parte da ração de viagem que ele comia dividindo
com os outros. Lander estava sobre uma árvore com um dedo sobre os lábios e o
cenho franzido. Depois, pôs-se a observar o horizonte.
Rendell,
enfim, aproximou-se. Lander deslizou pela árvore ao encontro dos demais.
- Encontrei.
Eles tiveram muito tempo. Estão aqui há pelo menos duas semanas. Cortaram
árvores, construíram quartos. É uma aldeia militarizada. São goblins
organizados. Orcs patrulham a paliçada. Vi pelo menos um hobgoblin. É possível
que existam mais. Não vi clérigos.
- Por
Tanna-Toh! Um acampamento da Aliança Negra tão próximo de Valkaria? O que está
acontecendo aqui? Vamos chamar os Patrulheiros da Deusa. Somente a força das autoridades
poderão devastar esse grupo. – Rendell ficou agitado. Aldred achou meio
frustrante o fato de terminar uma missão chamando as autoridades. Não havia
nada de heroico nisso.
- Podemos
matar todos. – Resmungou Luke pegando seu machado gigantesco.
- São pelo
menos quatro goblins, apenas dois orcs (já que matei um) e um, talvez dois
hobgoblins. Damos conta. – Lander disse fazendo sua espada longa assobiar.
Rendell
balançou a cabeça.
- Sete
inimigos confirmados. Podendo ser oito ou mais. Não é uma investida esperta.
Além do mais, combinamos com sir
Allan e Parak de encontrá-los na aldeia amanhã. Sem engajar com os inimigos.
Aldred mesmo sugeriu.
- Mas eu falei
de três vir investigar. Somos quarto. E eles não são tantos assim, derrotamos
mais do que isso quando encontramos na trilha perto da aldeia. – Aldred queria
lutar, sentir a adrenalina. Apesar do medo de se ferir, ele queria aprimorar
suas técnicas.
- Não. Será
perigoso de... – Uma gritaria fez o interrompido Rendell ranger os dentes. Mas
todos pegaram em armas quando viram um homem subitamente próximo a eles.
Ele vestia uma
capa negra sobre uma camisa de algodão cinza e calças de couro resistentes.
Seus cabelos eram castanhos bem claros, lisos e ele possuía óculos. Entretanto,
sua característica mais marcante era a tatuagem intrincada, começando pelos
seus braços, passando por seu rosto de forma levemente sutil ao redor dos olhos
e na testa.
- Meu irmão é
um estúpido e está indo se matar. Por acaso vão deixar isso acontecer? – Ele
disse com sarcasmo no sorriso. Todos olharam um homem, de fato, parecido com
ele.
Era da mesma
estatura mediana, mesmos cabelos lisos, mas mais escuros e vestia uma armadura
de couro endurecido com placas de metal. Ele girava uma espada de lâmina larga
enquanto gritava por atenção.
Aldred fez
menção de sacar sua espada, mas subitamente desistiu. Rendell avançou a pesados
passos, enquanto Luke pulou, aproveitando sua enorme estatura, para perto do
homem. Lander, então, absurdamente, apontou a espada para o homem de capuz.
- Explique-se.
Aldred perdeu
a paciência. Era a primeira vez que confrontava Lander, o empurrando.
- Depois!
***
Rendell e Luke
combatiam os goblins. Estes, mais espertos, lutavam próximos e conseguiam
desviar dos incríveis golpes do machado de Luke. Rendell aproximava com seu
escudo, defendendo um ataque e desferia poderosas marradas, mas também
bloqueadas pelos escudos inimigos. Aldred foi de encontro do hobgoblin e
descobriu que era um clérigo do deus da morte, a julgar pelo símbolo de Ragnar desenhado
primitivamente no escudo. Socos não faziam efeito, uma vez que o escudo era
muito grande. A maça pesada do clérigo também não conseguia acertar Aldred com
sua agilidade. Enquanto isso, Lander e o homem com a espada de lâmina larga
lutavam contra os orcs.
- Quem são
vocês? – Insistia Lander. Ele não conseguia entender o sentido de prioridades.
- Eu sou
Rhayner Sagrell! Meu irmão é Dathan Sagrell! – Gritou o guerreiro enquanto
desviava de uma estocada de lança com um sorriso largo.
Projéteis
brotaram por trás de todos, acertando dois goblins no peito, rompendo a
formação de escudos. A magia derreteu os escudos e o ácido também agrediu a
pele dos goblins. Dathan aproximava com cuidado, buscando proteção de uma
construção de madeira. Rendell e Luke, enfim derrotaram os goblins restantes,
amedrontados.
Aldred ouviu o
clérigo conjurar uma prece na horrenda língua goblinóide e imaginou que
terríveis profanações poderiam ocorrer consigo. O hobgoblin tentou tocá-lo
subitamente. Mas o jovem aparou o toque com seu braço, evitando a mão
pestilenta, e abriu a brecha perfeita para um soco direto no queixo.
Aproveitando o movimento, chutou a costela. Nem mesmo a proteção de metal
evitou o trincar de costelas. O sacerdote da morte tombou.
Quando os orcs
caíram, todos perceberam que a batalha tinha acabado. Entretanto, antes que
pudessem se reunir, os aventureiros ouviram sons de cavalgadas. Eles olharam o
horizonte, um hobgoblin fugira subindo uma colina entrecortada pelas altas
árvores do bosque. Era inútil iniciar a perseguição.
Lander serrou
o punho e socou uma parede de madeira.
Os quatro
agora estavam num acampamento fantasma ao lado de dois estranhos irmãos.
Impressões do
Mestre:
Neste episódio
são introduzidos rapidamente dois personagens novos, inspirados em dois novos
jogadores, o Daniel (Dathan) e Raphael (Rhayner) que também são irmãos. O grupo
crescia rapidamente, aproveitando-se de quando um ou dois membros faltavam às
sessões. Luisão ainda era o mestre da principal campanha, porém amadurecia a
possibilidade de Renato mestrar também, mas no mundo de Forgotten Realms.
Aliás, foi assim que o nome do grupo surgiu: pelo fato de nem todos os
jogadores lembrarem que existia uma sessão marcada às 8 horas da manhã.
Sim, nós
jogávamos 8 horas da manhã até umas 14 ou 15 horas. O horário pouco comum se
devia ao fato de Renato trabalhar aos domingos de tarde. Luisão também preferia
de manhã porque teria o domingo todo livre. Eu passei a gostar do horário, por
mais que beber coca-cola fosse muito indigesto a esta hora, porque podia
acompanhar os jogos do Flamengo às 16 horas costumeiras.
Como vocês
perceberam, Parak (Pablo) e sir Allan
(Alan) não participaram ativamente desse episódio. Isso se deve ao fato deles
não serem tão frequentes assim e raramente terem jogado ao mesmo tempo com
Daniel e Raphael.
A caçada do
grupo aos goblinóides por motivos vingativos de Lander é uma interpretação das
mestragens de Luisão, em um cenário de campanha criado por ele mesmo que era um
arremedo da Terra Média. A gente, inclusive, a chamava de Terra Intermediária.
As histórias não faziam muito sentido, era uma jornada infinita atrás de coisas
que não me recordo muito bem, onde enfrentávamos muitos inimigos, desde goblinóides
a dragões, gnolls, mercenários, gigantes e, mais no futuro, drows.
Concomitantemente,
acabamos jogando Forgotten Realms com Renato também, mas com menos gente.
Durante a campanha de Luisão, entretanto, muita gente apareceu apenas uma ou
duas vezes para fazer uma ponta e depois desaparecer. Vamos ver como isto será
colocado nos episódios do grupo em Arton.
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